Ontem na Paulista
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Estranho!
Esta perplexidade que me assola
Não é novata mas, desconcerta.
Ouvi relatos de mães que choraram horas a fio
Apenas por pensarem no futuro dos filhos.
Ontem, parado numa esquina da Paulista
Prestei atenção nos rostos dos transeuntes.
Estranho que, pela primeira vez, tenha me sentido em casa.
Não que eles estivessem a comungar comigo aquela mesma emoção.
Emoção que não sei definir – sinto-me estranho, entendem?
Mas pelo fato de que senti, ali, naquele pedaço de mundo,
O quanto somos humanos, mortais e frágeis.
Pela primeira vez senti-me igual no desconforto
Igual a todos aqueles que passaram naquela esquina erma.
Não pensei na humanidade, na massa imensa de seres
Que povoam este pedaço de rocha imerso na imensidão do espaço
Pensei apenas nos que meus olhos naquele instante seguiam.
Todos, humanos, mortais e frágeis, nós, tão empenhados no dia a dia.
Nada se interpunha entre nós.
Nada nos impedia de aguardarmos o sinal
Nada nos impedia de atravessarmos a faixa de pedestres.
Nada nos impedia de realizarmos nossos negócios e afazeres.
Nada nos impedia de colocarmos o mundo em funcionamento
A garantir o dia seguinte, a hora seguinte, o minuto seguinte.
A garantir que seguiremos todos, sempre, em frente.
Seguir em frente e não olhar pros lados:
Não ver o abismo, ignorar o escuro fosso,
Sermos tão superficiais quanto possível.
Afinal necessitamos de luz, mesmo que explosiva seja
E fugimos das trevas embora as trevas nos persigam
E o abismo continue a um passo, a nos tornar iguais.
Amanhã, alguém providenciará uma placa de alerta
Alguém começará a construção de mais uma barreira.
Novo interdito ganhará a majestade de lei
Haverá certamente quem proponha aterramos o abismo,
Quiça desmatarmos a floresta escura e iluminarmos a noite atômica com mil sóis
Mas o abismo de nós mesmos, este do qual fugimos
Persistirá em ceifar os melhores instantes das nossas vidas.
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